Empresas Familiares Têm Desempenho Melhor do que Corporations

setembro 12, 2018

O Credit Suisse soltou recentemente um relatório chamado The CS Family 1000 in 2018, revelando que empresas de controle familiar têm desempenho significativamente superior ao de corporações sem controle definido (as chamadas corporations). Essa tendência de longo-prazo se confirma em todas as regiões (EUA, Europa, Latam, Ásia) e em todos os setores.

Para alguns, esses dados soarão como uma surpresa. Afinal, por que então se fala tanto do modelo da corporation sem controle definido, onde as decisões são tomadas democraticamente pelos acionistas? Não seria esse modelo superior ao controle familiar? No Brasil, inclusive, já ouvi comentários que comparam empresas de controle familiar a  “uma forma de feudalismo”... uma visão demasiadamente cética e negativa sobre o assunto.

Profissionalização

Primeiramente, cabe um esclarecimento sobre o uso equivocado da terminologia. Muitas vezes empresas de controle familiar são entendidas como empresas não-profissionalizadas (uma forma imprecisa de se dizer “empresas de gestão incompetente”). É óbvio que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Assim como existem corporations com um corpo executivo bastante competente, também existem empresas de controle familiar com gestão de qualidade tão boa quanto ou, por que não?, superior. O inverso também é verdadeiro: não é porque uma empresa é uma corporation que ela, necessariamente, terá gestão superior.

A existência de membros da família controladora ocupando papéis de gestão não é um problema, desde que sejam competentes para dar conta das suas atribuições. Aliás, se o são, melhor ainda. Além de vestirem o chapéu de executivos, sofrem diretamente no seu patrimônio os efeitos de eventual má gestão. O mesmo, contudo, não pode ser dito das corporations, o que me leva ao próximo ponto.

Skin in the game

Nassim Taleb, em seu Incerto, usa bastante o termo skin in the game. Trazendo isso para o tema deste texto, podemos dizer que, na empresa familiar, a família é quem mais se beneficia, e quem mais sofre as consequências, de decisões/riscos assumidos pelo negócio. Se deu certo, a família ganha; se deu errado, a família perde. Isso é skin in the game. Nas corporations, a crise de 2008 deixou claro, de forma bastante amarga, o que acontece quando não há skin in the game.

Perspectiva de longo-prazo

Outra questão interessante é a perspectiva de longo-prazo das organizações (e isso tem relação direta com o nosso Modelo Work Levels): O relatório do Credit Suisse captou muito bem esse ponto, mostrando que empresas de controle familiar investem mais em ativos fixos e R&D do que empresas sem controle definido. Ou seja, ao invés de retornar capital aos acionistas (por meio de share buy-backs, por exemplo), preferem tomar riscos e fazer investimentos de longo-prazo. Pode até parecer contraintuitivo, especialmente para aqueles que têm uma visão (enviesada) de que toda família-empresária quer apenas sugar fluxo de caixa dos negócios. Pois bem, o contrário é verdade: empresas de controle familiar têm mais perspectiva de longo-prazo do que as corporations. E este, pelo dados do CS, é o elemento que explica a maior rentabilidade das empresas de controle familiar.

Conclusão?

Finalizando este breve comentário, vale esclarecer que o objetivo aqui não é esgotar o assunto, nem dizer qual modelo de governança é o mais adequado. Cada organização é diferente e ambos os modelos podem funcionar bem, desde que os devidos cuidados sejam tomados. Mas o relatório do Credit Suisse tem um grande mérito: ajuda a mostrar que empresas de controle familiar vão muito bem, obrigado, e que não precisam se “desculpar” por não serem corporations, tampouco se adaptar a esse modelo.

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