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Desenvolvimento Gerencial ou Desenvolvimento de Liderança?

Desenvolvimento gerencial e desenvolvimento de liderança são a mesma coisa?

Não, e a diferença NÃO é apenas semântica.

Primeiro consideremos o que é um GERENTE: alguém que, por ocupar determinado papel, terá de prestar contas não apenas pelo próprio trabalho e efetividade, mas também pelo trabalho e efetividade do seus subordinados.

Isso, naturalmente, envolve construir, sustentar e liderar uma equipe capaz de produzir o que é desejado, se mover na direção definida e melhorar continuamente.

E a LIDERANÇA?

No contexto empresarial, liderança é uma das habilidades necessárias para que o gerente consiga dar conta das suas atribuições.

Se é ele quem responde pelo trabalho e efetividade da sua equipe de subordinados, então ele precisa conseguir influenciá-los para que trabalhem na direção desejada.

Notem a ênfase no “influenciar”. A forma mais desejável de liderança é a influência. Fazer com que as pessoas sigam uma determinada direção, não porque alguém com autoridade “mandou”, mas porque acreditam e querem seguir tal direção.

Com isso, temos claro que a habilidade de liderança não é demandada apenas de gerentes. Essa habilidade é também crucial em outros domínios que nada têm a ver com o empresarial.

Por exemplo, a liderança é importante para o capitão do time de futebol, para a professora, para o candidato a vereador, para a brigadista de incêndio e por aí vai. Sim, tipos diferentes de liderança, mas que compartilham a influência como denominador comum.

Mesmo no contexto empresarial a liderança não é mesma em níveis diferentes de trabalho. A liderança do gerente de linha não é a liderança do CEO. Se tentarem influenciar suas equipes da mesma maneira, falharão terrivelmente.

Quem entende o que é um gerente e o que é liderança não enxerga lógica alguma na falsa dicotomia entre Líder e Gerente.

Já viram aqueles memes comparando Líder e Gerentes (ou “Gestor”) como se o primeiro fosse ótimo e o segundo, terrível? Pois é… completo non-sense!

(Basta dar um google por “Líder vs Gestor” para ver do que estou falando)

Bom, agora sabemos que gerente é um papel e a liderança é uma habilidade (uma forma de influência) importante para quem tem o papel de gerente. Simples assim.

Tem coisas que o bom e velho Diagrama de Venn nos ajuda a enxergar com clareza:

“Líder”, em si mesmo, não é um papel ou sequer uma qualidade. Eu posso ter boas habilidades de liderança num contexto, mas não em outro.

Crianças frequentemente demonstram flashes de sabedoria no que dizem. Você já viu algum pequeno dizer que, quando crescer, quer ser um líder? Claro, que não… crianças querem ser policiais, bombeiros, presidentes, músicos e por aí vai. E, claro, alguns desses papéis requerem habilidades de liderança.

E o que tudo isso tem a ver com os programas de desenvolvimento gerencial?

O ponto central é o seguinte: o papel do gerente (ou, se preferir, “líder gerencial”) requer mais do que habilidades de influência. Ser um gerente é mais do que liderança e vai além das soft skills.

Autoconhecimento, comunicação, empatia, negociação etc. são, indubitavelmente, facetas importantes, mas não podem ser os únicos aspectos para o desenvolvimento gerencial.

Ser um líder gerencial competente envolve também entender aspectos mais hard, que têm impacto direto sobre a cultura e efetividade de uma empresa.

Para finalizar este breve texto, um pouco da nossa experiência com o assunto:

Quando nós aqui no Pieron desenhamos programas de desenvolvimento gerencial para nossos clientes, temos alguns pontos sempre em mente:

  • Líderes gerenciais precisam de um modelo de gestão que seja suportado e reforçado pelo C-Level. Não adianta trazer conteúdos externos que sejam interessantes, curiosos e inspiradores, mas que não sejam reforçados de cima para baixo.
  • Este modelo de gestão deve ser construído sobre princípios de meritocracia e accountability. É isso que funciona, especialmente se sua empresa opera num mercado competitivo. Caso a empresa não tenha um modelo de gestão sólido, há que desenhá-lo.
  • Fala-se muito em accountability, mas há pouca clareza sobre o outro lado da moeda: autoridade. Especialmente quando tratamos de autoridades laterais (entre área). É isso que causa a cultura de silos, que os “novos” modelos de gestão têm a ambição de resolver.
  • Gerentes precisam entender não apenas de comportamentos, mas também de sistemas e símbolos. As pessoas tiram pausas, saem de férias e voltam para casa… mas os sistemas e os símbolos seguem trabalhando 24/7.
  • Por exemplo, é comum gerentes não terem sido expostos a noções mínimas de design organizacional, um dos sistemas mais importantes que existem. Isso tem piorado nos últimos anos.
  • Existem certos princípios e processos de gestão de pessoas que são atemporais e testados em diferentes indústrias, mercados e geografias. Paradoxalmente, são frequentemente deixados de lado. Está aí a base de modelos de gestão sólidos.
  • Líderes gerenciais precisam de um entendimento claro sobre capacidade humana. Sem isso não têm como serem eficazes no seu papel de coach (algo indelegável). Sem isso também não podem falar de potencial, sem confundi-lo com outros aspectos tais como habilidades, valores, personalidade e competências.
  • Todos sabem que as ações fora de “sala de aula” são importantíssimas, mas não devem ser encaradas como meras “ações”. Há que se criar processos, hábitos e prestação de contas. Dar continuidade e perenidade das ações.
  • E, claro, softskills, influência, liderança, comunicação etc. são elementos importantes, que devem estar sempre presentes. O problema é achar que esses temas têm que ser sempre centrais em programas de desenvolvimento gerencial. Sabemos que devem ir muito além.
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O Gap de Complexidade e as Eleições

O gap de complexidade existe quando nos deparamos com situações que exigem enxergar mais do que de fato conseguimos enxergar. Quando isso acontece, automaticamente reduzimos o problema a um tamanho com que conseguimos lidar.

No mundo empresarial, há (ou deveriam haver) mecanismos para garantir que as pessoas assumam desafios do tamanho certo para suas capacidades. Isso é um dos pilares da meritocracia e uma das condições para que experimentemos flow no trabalho.

Na gestão pública, contudo, isso não é sempre verdade. As posições mais altas na hierarquia governamental são preenchidos pelo voto popular e não por critérios meritocráticos.

Em outras palavras: o vencedor da eleição a um cargo público não será necessariamente o mais capaz, mas sim o que conseguir convencer mais eleitores de que ele o é.

Pois é... a democracia tem seus problemas e isso não é novidade. Sócrates, 2.500 anos antes de nós, acreditava que o voto universal (um dos pilares da democracia) faria com que o populismo se tornasse o critério de escolha dos governantes, substituindo a competência. 

Apesar das críticas, muitas vezes pertinentes, parece claro que as nações ditas democráticas acabaram se saindo melhor do que as não democráticas.

Nas palavras de Winston Churchill: “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras que foram experimentadas ao longo dos tempos”.

Com as eleições municipais se aproximando aqui no Brasil e as presidenciais, nos EUA, este parece ser o momento ideal para falar do gap de complexidade no contexto político. 

Para começar, podemos olhar para a distribuição da capacidade humana sob a perspectiva dos Work Levels e horizontes de tempo:


Como fica claro pela imagem acima, cerca de 91% da população tem horizontes de tempo de até um ano; e cerca de 51% têm horizontes de tempo de até 3 meses.

Quanto maior o horizonte de tempo de uma pessoa, mais à frente ela consegue pensar, enxergar, planejar e articular suas ações, e com mais variáveis ela consegue lidar quando toma decisões.

Se você é candidato e quer vencer, você precisa se conectar com esses eleitores. São esses 91% que decidem.

Por isso mesmo é muito raro vermos candidatos falando de iniciativas que trarão benefícios ao povo décadas à frente. Essa linha de argumentação garantiria o diálogo sobre as questões que realmente importam… mas também resultaria em derrota nas urnas.

Essa dinâmica faz com que todo o debate eleitoral fique centrado em questões de curto prazo e em temas que possam ser reduzidos a frases de efeito, sem muita margem para nuances.

Afinal, os candidatos mais capazes e habilidosos vão saber reduzir a complexidade da discussão para as variáveis e horizonte de tempo que os permita obter o maior número de votos possível.

Mas o problema vai além do gap de complexidade do eleitor, que o coloca como massa de manobra. Temos também o gap de complexidade dos candidatos frente aos desafios dos seus cargos.

Nos cursos que conduzimos no Pieron, gostamos de fazer a seguinte provocação usando o Modelo Work Levels como referência:

“Em que nível deveria trabalhar o presidente do Brasil?”

As pessoas sempre dizem (corretamente) que os ocupantes de tais cargos deveriam operar no mínimo no WL-5, o que se traduziria em horizontes de tempo de cinco a 10 anos.

A estimativa é coerente, pois um presidente minimamente competente precisa trabalhar mirando pelo menos dois mandatos.

Já um presidente que realmente pensa em deixar um legado duradouro, criando valor para gerações que ainda estão por vir, estaria mirando 20 a 50 anos à frente (algo equivalente ao que chamamos de WL-7).

Olhando para os últimos 20 ou 30 anos sob a perspectiva do gap de complexidade, você diria que tivemos ocupantes que estavam à altura do cargo?

Se a resposta for negativa, isso significa que as pessoas que sentaram nesta cadeira encolheram seu escopo de atuação para aquilo que elas mesmas conseguiam enxergar.

Lembre-se também que esse racional não se aplica exclusivamente ao presidente da república. Temos ainda 27 governadores, 5.570 prefeitos, 81 senadores, 513 deputados federais, 1.059 deputados estaduais e mais de 57.000 vereadores…

O gap de complexidade é coisa séria.
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O Lockdown do Orçamento

Esta semana, numa das reuniões que temos mantido com a rede global do Bioss International, surgiu um comentário interessante:

Antes era proibido não ter orçamento anual…

… agora o proibido é tê-lo.

O orçamento está em social distancing, trancado em casa, esperando a hora de voltar.

E o que mudou?

Nada de importante. Mas é claro que uma crise do tamanho da que estamos vivendo ajuda a deixar algumas coisas mais óbvias.

Primeiramente: o orçamento tem a sua utilidade.

Não estou aqui pregando a sua morte (mesmo que isso não fosse uma ideia tão ruim para muitas empresas).

Mas (há sempre um “mas”) o orçamento também acaba criando um sentimento de falsa segurança.

Já construí muitos modelos financeiros na minha vida. Frequentemente, esses modelos entram em detalhes minuciosos com relação a receitas, crescimento, composição de custos, impostos etc. e ocupam centenas ou milhares de linhas numa planilha de Excel.

Quem olha pensa: “puxa, com esse nível de detalhe, essas projeções devem ser bastante confiáveis”. E é aí que está que está o sentimento de (falsa) segurança.

A “vida real” acontece fora do Excel. E os elementos que realmente tem o poder de jogar projeções e orçamentos por água abaixo estão invariavelmente fora da planilha.

No ciclo de planejamento de 2019-2020, não se fizeram modelos com um cenário coronavírus; em 2007, não haviam orçamentos com o cenário crise do subprime; e o mesmo vale para o cenário bolha das ponto-com, para o cenário de crise Russa, para o cenário WW2, para o cenário gripe espanhola e para o cenário queda de Roma.

(esses modelos, quando são feitos, estão olhando para trás — o famoso backtesting)

Se usássemos modelos mais realistas, trabalharíamos com cenários de descontinuidade. Alguns prevendo a falência no ano seguinte; outros, prevendo crescimento e rentabilidade formidáveis. 

Quando nos acostumamos com tempos de calmaria, a tendência pode ser gerenciar aqueles elementos que estão bem mapeados numa planilha. Gerenciar a continuidade. Reduzir a complexidade do negócio para algo que seja mais manejável.

Mas o mundo não está nem aí para a suas macros no Excel.

Em momentos de turbulência, jogar o orçamento no lixo é um ato simbólico: deixa claro que o gerenciamento tem que ir muito além do que é orçado e planejado.

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A Terceira Doença Mortal do Gerenciamento

Deming mantinha uma lista das 7 doenças mortais do gerenciamento.

E muitos se surpreendem quando leem o item #3: Evaluation of performance, merit rating, or annual review.

Sim, a prática de avaliação de desempenho (normalmente anual) é tão difundida e onipresente, que deve ser produtiva, certo?

Deming sabia que não.

Ou você tem “qualidade total” (o termo da época) ou você tem avaliações de desempenho anuais. Os dois juntos não combinam.

Um motivo?

“The fact is that the system that people work in and the interaction with people may account for 90 or 95 percent of performance”, nas palavras do próprio.

E Deming estava bem acompanhado. Elliott Jaques também criticava o foco excessivo das empresas nas “personalidades”, sendo que os problemas (ou oportunidades, se você gosta desse jogo de palavras) quase sempre estão nos sistemas.

A diferença é que Jaques propunha algo diferente para as avaliações de desempenho: a avaliação de efetividade pessoal (assunto para outro post).

Mas o que une Deming e Jaques é a atenção aos sistemas. No caso de Jaques, os sistemas de gerenciamento, incluindo a estrutura organizacional (fonte inesgotável de problemas, mesmo que a solução seja simples).

Ou seja: “A bad system will beat a good person every time”

Poucos discordam desta frase (também de Deming), mas o problem solving ainda mais predominante é perguntar “quem?” e buscar culpados.

Deming deve estar sorrindo de onde estiver ao ver que, quase trinta anos após sua morte, algumas empresas estão finalmente tirando de campo uma prática que ele criticava há muito tempo.

Nunca é tarde para consertar sistemas.

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Empresas Familiares Têm Desempenho Melhor do que Corporations

O Credit Suisse soltou recentemente um relatório chamado The CS Family 1000 in 2018, revelando que empresas de controle familiar têm desempenho significativamente superior ao de corporações sem controle definido (as chamadas corporations). Essa tendência de longo-prazo se confirma em todas as regiões (EUA, Europa, Latam, Ásia) e em todos os setores.

Para alguns, esses dados soarão como uma surpresa. Afinal, por que então se fala tanto do modelo da corporation sem controle definido, onde as decisões são tomadas democraticamente pelos acionistas? Não seria esse modelo superior ao controle familiar? No Brasil, inclusive, já ouvi comentários que comparam empresas de controle familiar a  “uma forma de feudalismo”... uma visão demasiadamente cética e negativa sobre o assunto.

Profissionalização

Primeiramente, cabe um esclarecimento sobre o uso equivocado da terminologia. Muitas vezes empresas de controle familiar são entendidas como empresas não-profissionalizadas (uma forma imprecisa de se dizer “empresas de gestão incompetente”). É óbvio que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Assim como existem corporations com um corpo executivo bastante competente, também existem empresas de controle familiar com gestão de qualidade tão boa quanto ou, por que não?, superior. O inverso também é verdadeiro: não é porque uma empresa é uma corporation que ela, necessariamente, terá gestão superior.

A existência de membros da família controladora ocupando papéis de gestão não é um problema, desde que sejam competentes para dar conta das suas atribuições. Aliás, se o são, melhor ainda. Além de vestirem o chapéu de executivos, sofrem diretamente no seu patrimônio os efeitos de eventual má gestão. O mesmo, contudo, não pode ser dito das corporations, o que me leva ao próximo ponto.

Skin in the game

Nassim Taleb, em seu Incerto, usa bastante o termo skin in the game. Trazendo isso para o tema deste texto, podemos dizer que, na empresa familiar, a família é quem mais se beneficia, e quem mais sofre as consequências, de decisões/riscos assumidos pelo negócio. Se deu certo, a família ganha; se deu errado, a família perde. Isso é skin in the game. Nas corporations, a crise de 2008 deixou claro, de forma bastante amarga, o que acontece quando não há skin in the game.

Perspectiva de longo-prazo

Outra questão interessante é a perspectiva de longo-prazo das organizações (e isso tem relação direta com o nosso Modelo Work Levels): O relatório do Credit Suisse captou muito bem esse ponto, mostrando que empresas de controle familiar investem mais em ativos fixos e R&D do que empresas sem controle definido. Ou seja, ao invés de retornar capital aos acionistas (por meio de share buy-backs, por exemplo), preferem tomar riscos e fazer investimentos de longo-prazo. Pode até parecer contraintuitivo, especialmente para aqueles que têm uma visão (enviesada) de que toda família-empresária quer apenas sugar fluxo de caixa dos negócios. Pois bem, o contrário é verdade: empresas de controle familiar têm mais perspectiva de longo-prazo do que as corporations. E este, pelo dados do CS, é o elemento que explica a maior rentabilidade das empresas de controle familiar.

Conclusão?

Finalizando este breve comentário, vale esclarecer que o objetivo aqui não é esgotar o assunto, nem dizer qual modelo de governança é o mais adequado. Cada organização é diferente e ambos os modelos podem funcionar bem, desde que os devidos cuidados sejam tomados. Mas o relatório do Credit Suisse tem um grande mérito: ajuda a mostrar que empresas de controle familiar vão muito bem, obrigado, e que não precisam se “desculpar” por não serem corporations, tampouco se adaptar a esse modelo.

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Quando o tempo interessa e faz diferença

Uma leitura do Balanced Score Card

Não, não falaremos sobre administração do tempo. Abordaremos conceitos atuais da Física e sua relação com a administração e os negócios. Alvin Toffler, no prefácio de ‘Order Out of Chaos’, de Prigogine e Stengers (1984), escreveu: ‘Parte da vasta revolução atual, tanto na ciência como na cultura, é a reconsideração do tempo… Nas ciências sociais o tempo permanece em terreno virgem … Mais ainda, cada cultura e cada pessoa tende a pensar em ‘horizontes de tempo’. Alguns de nós pensam somente no imediato. Políticos, por exemplo, são freqüentemente criticados por procurar somente o imediato, resultados de curto prazo … a próxima eleição. Outros de nós pensam a longo prazo.

Estes diferentes ‘horizontes de tempo’ são fontes de fricções políticas e sociais – talvez uma das mais importantes’. E Toffler continua: ‘ …as ciências sociais desenvolveram- se muito pouco na direção de uma teoria do tempo coerente’. E remete o leitor ao seu ‘Future Shock’, onde define durational expectancies – como nossas pressuposições culturalmente induzidas com relação ao quão longo um processo deve ser.Toffler está apresentando o seminal livro de Prigogine e Stengers, que recolocam o tempo como o conceito fundamental para a nova ciência. No mundo mecânico de Newton e de Einstein, o tempo não tem importância em si. Um momento seja no presente, passado ou futuro, é assumido como sendo exatamente como um outro momento. O ciclo infindável dos planetas, por exemplo, pode ir para frente ou para trás sem alterar seus sistemas básicos. O máximo que iríamos obter é uma volta – retorno – seguindo os passos deterministas até então gerados. Por isso os cientistas se referem ao tempo como ‘reversível’.

Com a termodinâmica emergindo no final do século XIX, contudo, aprendemos sobre a perda da energia dos sistemas: entropia. Então, a máquina do mundo newtoniano começa a se aproximar da morte, e o que se segue é que um momento já não é mais como o último. Não se consegue reverter o universo de sua entropia! Os eventos ao longo do tempo não podem substituir a si mesmos. E tudo isto significa que existe uma direcionalidade nos processos físicos, o que Eddington chamou de ‘a flecha do tempo’.

Tempo precede a existência

Prigogine e Stengers rompem com o mundo mecânico e determinista trazendo para a Física a questão do tempo em uma dimensão totalmente nova – ‘o tempo precede a existência’, enfatizam. A tese deles é que processos químicos (da vida) são dependentes do tempo, e são irreversíveis. E processos irreversíveis compõem o que denominam estruturas dissipativas, mas que não necessariamente conduzem à desordem. Estes processos irreversíveis são fonte de ‘novas ordens’ que – associados ao seu caráter randômico e de troca com o meio – levam a níveis mais elevados de organização, como as estruturas dissipativas.

Toffler estava descobrindo nas ciências naturais os conceitos inovadores de Prigogine e de sua equipe, e não se continha em fazer analogias entre estes conceitos e as ciências sociais, políticas, civilização e a condição do próprio indivíduo, reclamando por uma ciência humana coerente a respeito do tempo.

Coincidentemente, Elliott Jaques publicava em 1984 seu também seminal livro ‘The Form of Time’, no qual fundamenta seus conceitos sobre o tempo nos aspectos relativos às estruturas hierárquicas complexas – como as organizações – e também nos traz o conceito de que as pessoas têm capacidade – potencial, na linguagem de recursos humanos – , compreendida pelo que denomina ‘horizonte de tempo’. E propõe uma teoria – hoje já mundialmente reconhecida – acerca de como o tempo se torna tanto uma medida objetiva para as Ciências Humanas, como também a principal referência para se medir a complexidade dos negócios e o potencial humano.

Para Jaques, todos nós temos um projeto pessoal inconsciente definido como nosso time-span (horizonte de tempo). Pensar a curto ou longo prazo, como bem caracterizou Toffler, não é uma questão de interesse. Em muitas situações, muitos são capazes de fato de lidar com ‘certos horizontes de tempo’. Isso nos possibilita identificar diferentes graus do espírito empreendedor.

A capacidade humana se expressa em um horizonte de tempo, o que significa ‘com quanto de incerteza uma pessoa é capaz de lidar tendo de olhar à frente, transformar uma intenção num output específico, trabalhando sem supervisão e usando seu julgamento para conduzir ações e superar obstáculos’. Os horizontes de tempo variam de um dia a três meses no primeiro nível de complexidade, de dois a cinco anos num primeiro nível estratégico, de cinco a 10 anos para um presidente de uma empresa, e de 20 a 30 anos, para um CEO empenhado na tarefa de construir novos valores para futuras gerações.

Horizontes único

Para Jaques, estes horizontes de tempo são inerentes a cada indivíduo. Quando uma pessoa assume uma função, trará seu desempenho e o tamanho da estrutura organizacional ao seu nível atual de capacidade. O horizonte de tempo se torna uma referência significativa e uma pedra de toque para estudos de estrutura organizacional e planejamento corporativo dos recursos humanos.

Para Jaques, estes horizontes de tempo são inerentes a cada indivíduo. Quando uma pessoa assume uma função, trará seu desempenho e o tamanho da estrutura organizacional ao seu nível atual de capacidade. O horizonte de tempo se torna uma referência significativa e uma pedra de toque para estudos de estrutura organizacional e planejamento corporativo dos recursos humanos.

Neste ponto, é inerentemente impossível antecipar o próximo estado do sistema. Prigogine aproxima- se do conceito de direcionalidade, de certo grau de ‘escolha ao nível da matéria’. Pressupõe uma ordem no caos. Assim também é a vida dos decison makers nas organizações.Frente às instabilidades e flutuações do mundo dos negócios, a incerteza deve ser enfrentada e decisões precisam ser tomadas. Elaborar uma decisão não é um processo determinista.

A verdadeira decisão é um processo não linear, dinâmico, com componentes inconscientes (valores, combinações velozes de dados e interpretações, intuições, etc.) e nós (nosso consciente) temos acesso à direção da decisão, e confiamos nela, porque é o melhor que pudemos produzir. O limite delas é nosso horizonte de tempo. Toda decisão é um ato criativo. O momento não irá se repetir e o processo é irreversível. Será necessário colocar planos em ação para transformar a intenção em realização.

Balanced score card (BSC) e tempo

Um dos pontos práticos para a reflexão em relação a uma das ferramentas em evidência é o BSC. Conversando com um colega – entusiasmado pelo processo em si de desdobramento das estratégias organizacionais em planos operacionais – fiz uma observação que o surpreendeu, aparentemente porque nunca havia feito esta correlação.

Minha observação foi simples. O BSC é uma ferramenta que se inicia exatamente com a questão do tempo! Seu processo requer uma visão de cinco anos (cinco anos são o limite entre os Work Levels® IV e V – horizontes de tempo de dois a cinco ou cinco a 10 anos). A produção de uma visão de cinco anos à frente requer uma distinta capacidade humana. Perguntei ainda se a pessoa em questão teria recursos para enxergar essa visão. A partir de uma visão com um projeto de cinco anos, o BSC demanda planos complementares de três anos, de um ano, e assim por diante.

Se minha lógica estiver correta em relação ao vínculo fundamental do BSC com o tempo – relembrando Prigogine: ‘o Tempo precede a existência’ – podemos deduzir que muito provavelmente algumas experiências com o BSC serão bem sucedidas, mas boa parte talvez não. Por quê? Horizonte de tempo e capacidade de enxergar através das incertezas!

O quanto as intenções do BSC, intuídas com base em horizontes de tempo, serão adequadas, só o tempo dirá. E decisões irreversíveis, que irão alocar recursos, mobilizar pessoas, envolver comprometimento em diferentes escalas na organização, terão sido tomadas! As ações com base no BSC serão verificadas em sua efetividade no máximo daqui a cinco anos! E o que são cinco anos na vida corporativa?


Nota: Artigo publicado originalmente no antigo site do Instituto Pieron.

 

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Vocação, carreira e transição

Num mundo onde o trabalho organizado e remunerado se impõem, falar de carreira é mais do que pertinente. Adicione ainda as constantes pressões do chamando ‘mundo sem emprego’.

Em países desenvolvidos, o trabalho vinculado a organizações responde por 80 a 95%! Mas esta não é nossa realidade. Por aqui, a carreira permanece uma questão vital.

Ao homem moderno, pelo menos duas questões se apresentam: escolher uma profissão por auto-realização ou por recompensa extrínseca (dinheiro, por exemplo). Difícil encontrar uma resposta. Para alguns, essa dualidade não existe. Extrínseco é apenas uma forma didática de diferenciar o mundo externo do interno. Para outros, a questão da felicidade vai além.

Quando um jovem, adolescente, quer optar por uma profissão, questões como essas podem soar prematuras. Afinal, eles têm toda uma vida pela frente! Contudo, as pessoas na ‘crise da meia idade’ (acesse www.pieron.com.br – biblioteca), observam suas realizações, checam seus valores e olham para o futuro de um modo diferente. A felicidade se impõe.

Autores como Maslow (um dos maiores teóricos sobre motivações) e Erik Eriksson (um dos maiores sobre psicologia do desenvolvimento) revelaram aspectos interessantes em suas obras. Maslow entendeu que além das cinco necessidades básicas, havia a necessidade espiritual. Eriksson, além dos oito estágios do desenvolvimento, descobriu o estágio transcendente. Sem qualquer conotação religiosa, estes autores falam do ponto de vista do mundo interior do ser humano.

Na revista Época de 30/12/02, a entrevista em destaque foi ‘Terapeuta do Dinheiro’. A asserção básica é a de que a vocação em si não conta. Sem dúvida, em sintonia com o prag-matismo americano e as ideologias capitalistas. Se o mundo é um mundo econômico, de negócios, a vocação essencial passa a ser saber fazer dinheiro.

Contudo, as questões não são tão simples. Considerando que a maior parte dos trabalhos não está diretamente relacionada às decisões de investimento, e que dedicamos ao trabalho de 8 a 14 horas diárias, acredito que muitas pessoas também vão buscar a realização pessoal. Não há dúvida de que existem preferências pessoais. Nem todos querem trabalhar com números, com gente, nem todos querem tecnologia. A carreira envolve o lado extrínseco, o do dinheiro/status, como também requer conquistar novos conhecimentos (do contrário, o dinheiro não vem, não é?), ter flexibilidade e facilidade de mudança de áreas de conhecimento, isto é, aprender. Aqui a reflexão é outra. E essas questões se tornam claras quando se conversa com quem passa pelos chamados períodos de transição de carreira.

Transição de carreira: Dois focos

Normalmente fala-se de transição de carreira durante o desemprego. A transição prevê encontrar uma nova posição, muitas vezes com apoio de serviços especializados. Pode tomar a forma de uma revisão pessoal, avaliando-se as causas do desligamento em termos de performance, de atitudes, de oportunidades perdidas. E é uma oportunidade de mudança se não houver pressão financeira. Agora, se a ansiedade for grande, a reflexão ficará inibida e maior deverá ser a habilidade do conselheiro. As pressões sociais, familiares e econômicas às vezes falam mais alto.

E existe também a transição de carreira, quando as pessoas ainda estão empregadas. Nessa situação, há a possibilidade de promoção em atividades que aumentam o nível de complexidade do trabalho, o qual precisa estar alinhado com o aumento da capacidade de lidar com a incerteza. Muitas pessoas almejam posições mais estratégicas e para isso deveriam estar ‘equipadas’ não só com a ambição do dinheiro e status, mas também com a condição de poder lidar com raciocínios diferentes, enxergar horizontes mais amplos e longos, de poder contribuir não mais para desenhar sistemas de trabalho, mas, sim, para administrar o futuro desconhecido. O desafio passa a ser o de produzir e gerenciar inovações. O autoconheci-mento e o convívio com limites pessoais tornam-se vitais.

Vale a parábola do jovem arqueiro que se tornou exímio atirador sem entrar para um mosteiro. Desafiando um monge na arte da flecha, mostrou como consegue acertar uma cereja a muitos metros de distância. O monge, por sua vez, retribuiu colocando-se sobre uma pequena ponte de cordas apodrecidas sobre um imenso abismo para fazer seu tiro. O jovem, tentando imitá-lo, não conseguiu manter o equilíbrio e perdeu seu tiro.

Ter controle sobre si mesmo nos momentos difíceis é mais do que uma habilidade técnica. E para isto o autoconhecimento – conhecer sobre seu tipo, seu estilo, seus valores e seu potencial para diferentes níveis de trabalho – faz uma grande diferença e o torna mais competitivo em situações difíceis e imprevistas.


Nota: Artigo publicado originalmente no antigo site do Instituto Pieron.

 

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Jornadas extenuantes: um passo para desastres, inclusive na sua carreira

Existe algum efeito danoso das jornadas extenuantes na produtividade, saúde e carreira das pessoas, certamente é uma pergunta que muitos de nós vive querendo resposta.

Indo direto ao ponto –> SIM, se deixar levar por um modelo de trabalho que leva à exaustão física, mental e psicológica pode causar danos irreversíveis à sua saúde, produtividade, carreira e vida. É evidente ser necessário, algumas vezes, empreender jornadas “fora do normal”. Situações de crise, picos de demanda, projetos em fases críticas…

Há situações típicas onde se operar acima da capacidade é vital. Quantas vezes, como motoristas, nos vemos ocasionalmente obrigados a levar aos píncaros, as rotações do pobre motorzinho (ou motorzão) do nosso automóvel, em momentos de ultrapassagens mal calculadas ou para fugir de situações de perigo que inesperadamente apareceram à nossa frente e a nossa revelia.

Mas, você já viu alguém em sã consciência manter em níveis altos o giro do motor do carro por mais do que poucos segundos? Você já viu uma cozinheira ou um chef deixar um liquidificador em sua rotação máxima por mais do que poucos minutos. Será que alguém desconhece a resposta?

É senso comum a questão da capabilidade (ou capacidade) inerente a qualquer sistema. Sim, é possível operar acima da própria capacidade, por um tempo. Nunca por todo o tempo. Sabemos bem as consequências.

O intrigante é tentar compreender porque significativa parte das empresas desconsidera isso parcialmente.. Digo parcialmente porque, nunca vi uma empresa operar suas máquinas além dos limites de capacidade conhecidas e especificadas pelo fabricante, por tempo indeterminado. O que me pergunto é por que o fazem com as pessoas?

Entendo menos ainda, por que nós, as tais pessoas, nos conformamos com esse abuso?

Medo de perder o emprego? Ah, se esta estiver sendo a sua resposta é só porque você nunca perdeu seu emprego . Quem já viveu esta experiência sabe bem o quanto isso é ilusório. Perde-se emprego, isto é fato. Claro que sempre haverá um motivo apresentado plausível, inteligente e lógico, mas a realidade é que a demissão vem e é independente de seu alto desempenho e resultados, da sua qualificação extraordinária ou sua dedicação ímpar.

Então, aceitar ser abusado e não colocar os limites da sua capacidade física, mental e psiquica, sinto informar, não garante nada, ao contrário, pode até acelerar sua demissão porque a deterioração de sua saúde e produtividade, quando acontecerem serão mais do que bons motivos para sua demissão.

Não há dúvida de que o trabalho é uma das maiores fontes de valorização social e contribui significativamente para a construção da autoestima em qualquer ser humano. É também motivo de orgulho ser considerado e reconhecido como alguém trabalhador, esforçado, dedicado. A paixão pelo que se faz é outro ingrediente que nos faz tolerantes ao excesso de trabalho. Isto sem esquecer do senso de responsabilidade.

Todos estes ingredientes podem explicar, em parte, porque somos bastante tolerantes com abusos. Queremos produzir riqueza, aplicar conhecimentos, obter resultados.

Só é preciso relembrar que trabalhar mais é muito diferente de trabalhar bem. Ao contrário. Quando o problema for o processo, a falta de recursos ou a incompetência, de nada adiantará esforço por maior que ele seja. Sem contar que a questão pode ser a inviabilidade das metas colocadas e impostas por quem desconhece a capacidade do sistema que dirige.

Tomar decisões erradas, não ter mais cabeça pra pensar, esquecer coisas importantes ou adoecer são algumas das consequências de um alto stress e do pouco ou quase nenhum espaço para “recarregar” energias. Sem contar que trabalhando muito é quase impossível você se manter atualizado e este poderá ser outro bom motivo para sua demissão.

Para finalizar, a exaustão é acelerada por conta de outros ingredientes do mundo moderno. O fuso horário, que não existe mais neste mundo globalizado, mas o respeito a ele existe sim, embora apenas acima da linha do Equador. Assim como férias regulares, permitidas a você, é claro, desde que sejam de 10 ou 15 dias e com o blackberry ligado, correto?

Tudo precisa ser assim em real time, on line, monitoramento contínuo e ininterrupto, conectividade 24 horas e 365 dias por uma questão de sobrevivência. Afinal a máquina não pode parar. Caso contrário, o acionista não apreciará e migrará seu rico dinheirão para outras paragens. E aí, como você fica?

Talvez com alguma chance de ainda salvar seu casamento, de ver e beijar seus filhos antes que sigam seus caminhos, de resgatar sua saúde plena, crescer em cultura, descobrir o que aprecia e de rever do quanto realmente precisa para viver com significado e dignidade. Ainda a tempo de resgatar sua identidade e o sentido e valor de sua vida.


Nota: Artigo publicado originalmente no antigo site do Instituto Pieron.

 

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Treinamento: De consultoria interna para consultoria de performance

O tema está focado aqui para treinamento. Mas é difícil abordá-lo sem falar sobre o profissional de Recursos Humanos e sua responsabilidade neste processo. Na última década, um dos temas polêmicos tem sido a ‘consultoria interna’. Afinal, o que a caracteriza? É uma atribuição adequada? Representa o que de melhor se pode fazer?

O papel de consultoria interna pode não representar o se pode fazer em RH. Onde e como buscar referenciais para uma ação? Segundo Elliott Jaques, as ‘organizações são sistemas estruturados para conseguir que determinado trabalho seja alcançado’. As organizações são também sistemas que empregam o trabalho humano (a capacidade para produzir julgamentos), e normalmente se estruturam com base no princípio de liderança. Embora diferentes modismos tenham surgido nos 20 últimos anos sobre o que é uma organização (clube, hospital, orquestra, centro de aprendizagem?) e tenhamos vivido os efeitos da reengenharia, o que ainda prevalece é que as pessoas organizações são responsáveis por resultados. Em algum momento, alguém (ou um grupo de acionistas) tornou outro alguém responsável por um empreendimento. E este alguém, para conseguir seus objetivos, atribuiu novas responsabilidades em forma de cascata. Esse modelo parece ser universal e perene. Não dá para lidar com a complexidade sem uma estrutura que permita que diferentes funções, em variados níveis, sejam administradas. Diferentes outputs são produzidos continuamente através de processos verticais e de alinhamentos horizontais nas diversas cadeias que compõem o trabalho a ser gerenciado.

Quais são, então, os requisitos de tal sistema? Jaques interpreta o princípio básico das organizações como ‘estabelecer um sistema gerencial em que o trabalho possa ser feito com efetividade impar na produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades da sociedade. E fazê-lo de tal maneira que torna possível às pessoas exercerem sua plena capacidade, e trabalhar sob condições que fortalecem as fronteiras da confiança mútua.’1 Alcançar esta condição não é apenas uma responsabilidade executiva mas uma questão moral.

Se esta visão for motivadora, alguns conceitos e princípios devem ser levados em conta para esse sistema gerencial, em geral conceitos e princípios interligados:

  • A natureza do trabalho humano, da tomada de decisão, e solução de problemas;
  • A natureza da capacidade humana para o trabalho, incluindo a capacidade para lidar com a complexidade;
  • O encontro ideal entre a complexidade da informação, os níveis da organização e os níveis do funcionamento mental;
  • A natureza do desenvolvimento individual e o crescimento da capacidade das pessoas;
  • Os princípios de reconhecimento e compensação justos pelo trabalho;
  • A natureza da liderança;
  • Os princípios de geração de competências.

Antes de falar em pessoas, antes de qualquer ação, abordamos os princípios de gestão, de práticas gerenciais. Elas constituem o pano de fundo para a questão da consultoria e, particularmente, do treinamento. Sem isto, as ações não terão muito sentido. Com esse pano de fundo, a questão da consultoria interna pode perder sentido, pois o profissional não se torna consultor e, sim, viabilizador dos princípios gerenciais. Passa então a ter uma intenção explícita e compartilhada de conseguir um ambiente voltado para a performance e realização do potencial humano. Você pode chamar isto de consultoria de performance, como existe uma tendência, modismo. Os profissionais de RH não devem se enxergar como ‘consultores’. Eles são parte da organização, compartilham valores, princípios, e são atores nos processos internos; são igualmente ‘cobrados’ por determinados resultados e por excelência no que devem fazer. Sem dúvida que a noção de consultoria procura captar o papel em sua dimensão qualitativa. Mas acho que essa leitura deve ser revista.

De qualquer maneira, a questão se impõe. Nos sistemas gerenciais orientados para a performance e o pleno uso da capacidade das pessoas, o ‘prestar serviço interno’ ainda se mantém. O sistema gerencial deve ter clareza sobre as ‘autoridades’ delegadas e as práticas gerenciais necessárias. Há empresas que afirmam ser responsabilidade gerencial a condução de pessoas, equipes. Mas, ao se observar a ‘autoridade’ delegada, verifica-se que elas não apóiam a responsabilidade esperada. Jaques é claro quando fala das responsabilidades gerenciais: primeiro, um gerente só é de fato um gerente quando é responsável pelo output de seus liderados. As coisas ora se invertem. Se um gerente é responsável pelos resultados de seus liderados, pode-se criar um ambiente de forte demanda para ações de RH. Mas isso, sozinho, não é suficiente.

Segundo aspecto: um gerente só é de fato gerente quando tem também autonomia e responsabilidades com base em princípios, para questões óbvias: compor uma equipe de trabalho (ter direito a veto), afastar alguém de sua equipe, avaliar e acompanhar a performance, praticar o reconhecimento por mérito, praticar a delegação. Digo praticar, isto é, estar investido da autoridade de, e não sugerir, ou consultar, pois isso tira a autoridade e sem ela não há reconhecimento de liderança.

É importante um esclarecimento com relação ao termo autoridade. No Brasil, infelizmente, a palavra traz inúmeras interpretações. Autoridade vem de ‘author’, isto é, ser autor, ter a condição de autoria. Dentro de princípios de performance e uso pleno da capacidade, a equipe de alta performance é um produto (autoria) da qualidade da gestão. E a liderança tem aí uma contribuição essencial.

Terceiro ponto. As práticas de liderança são dez: trabalho em equipe de duas mãos, definição de contextos, planejamento, atribuição de tarefas, avaliação da efetividade pessoal, revisão de méritos, coaching, seleção e indução, afastamento e demissão, e melhoria contínua. Nesse contexto, se quiser continuar utilizando o termo ‘consultoria’, apresento aqui dez áreas de oportunidade para esta prática.

O treinamento

Neste contexto, onde entra o treinamento? O que é treinamento?

O treinamento é uma ferramenta gerencial, voltado para acrescentar ou desenvolver uma habilidade, um comportamento, que pode ser aprendido (está ao alcance das pessoas a serem treinadas), e que irá reverter – ou contribuir para tal – uma situação de performance inadequada claramente definida. Se ficou claro, treinamento acontece quando tenho um problema definido (consigo medir as evidências de um problema e sei quais as suas causas, por isso, quero um treinamento para reverter). Assim, será possível uma intervenção e reversão de uma situação.

De quem é o problema de treinamento?

Quem tem um problema de treinamento é o gerente! Ele é o responsável pelo output de seus liderados. Ele deseja algum tipo de apoio para reverter uma situação de performance inadequada. Nesse contexto (existem muitos outros), o termo consultoria interna também é utilizado. Mas penso que deva ser importante enfatizar que se faz consultoria interna centrada naqueles princípios destacados. Assim, essa consultoria interna não se limita a prestar um serviço, quer desenvolver a capacidade e o desejo dos gerentes de se tornar responsáveis pelo output de seus liderados. E isto não é apenas prestar serviço. Passa ainda por influenciar as práticas organizacionais, ajudar a empresa a pensar seus modelos, visão de trabalho, pessoas, etc., para somente então, ‘entregar’ um serviço específico, que só tem sentido com uma visão mais ampla do que se está entregando e por qual motivo.

Medindo os resultados

Em seu livro ‘Evaluating Training Programs’, Kirkpatrick procura definir passos para avaliar os treinamentos. Foca especificamente a ação treinadora e define ‘os quatro níveis’: reação, aprendizagem, comportamento e resultados. Nada muito desconhecido da prática. A reação se mede sobre como as pessoas ‘sentiram’ o treinamento – satisfação com o processo. A aprendizagem é definida pela extensão pela qual os participantes mudaram de atitude, aumentaram seus conhecimentos e habilidades, pelo fato de participarem do programa. Comportamento é definido pela extensão pela qual houve mudança no comportamento, acontecido pelo fato de se ter participado no treinamento. Esta mudança no comportamento é um dos pontos críticos. Kirkpatrick destaca que para haver mudança no comportamento, quatro condições são necessárias: a pessoa precisa desejar a mudança, precisa saber o quê e como fazer algo, precisa trabalhar no ambiente e clima corretos, e precisa ser ‘recompensada’ pela mudança. Independentemente de certa visão behaviorista do processo, destaco a terceira condição – ‘trabalhar no ambiente e clima corretos’ como uma das condições importantes para a mudança. Ora, ambiente e clima adequados são responsabilidades gerenciais. Se o clima é negativo, ou se o treinando não tem um contexto adequado para aplicar o que foi ‘aprender’ com o treinamento, então temos um outro problema, o da eficiência gerencial. O quarto critério de avaliação, resultados, é definido como as conseqüências finais resultantes do programa, tais como aumento na produção, diminuição dos acidentes, queda nos custos, e mesmo aumento em vendas. Sem dúvida, esta é uma visão bastante pretensiosa do poder do treinamento.

Como podemos associar aumento de vendas a um programa de treinamento? De um lado, Kirkpatrick fala sobre o que acontece dentro dos limites da ação de treinamento (curso ou aula, com queiram chamar). Por outro lado, aumentar as vendas está além do controle dos participantes. Eles não têm controle sobre todas as variáveis que afetam o aumento das vendas. Desde as mais intangíveis como concorrência, clima, mudança de estratégia do concorrente, mudança de produto do concorrente, até as mais próximas, como ter ou não certos recursos financeiros imediatamente disponíveis para uma promoção, uma ação contingencial – os recursos necessários dependem de uma decisão gerencial de outro nível. Desta forma, Kirkpatrick comete um erro conceitual ao depositar no treinamento tal responsabilidade. E me parece tanto injusto como pretensioso atribuir tal responsabilidade ao treinamento . Vou explicar o motivo.

Primeiro, o treinamento tem seu maior poder em gerar conhecimentos e comportamentos, tem até o poder de motivar (dar novos contextos para a aplicação do que se aprendeu). Contudo, isto acontece dentro de limites (quatro paredes, por exemplo). Segundo, para que as mudanças aconteçam com maior eficiência, tanto os objetivos como os recursos para a mudança devem estar sob o controle do treinando. Terceiro, a gerência é a maior interessada no desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades dos seus liderados e estes conhecimentos e habilidades devem ser vistos como novos recursos que se está disponibilizando para a gestão e solução de problemas. Assim, é responsabilidade da gerência garantir contextos e condições para que os novos comportamentos sejam utilizados como recursos. Treinamento é investimento, podendo ser bem ou mal utilizado.

Transcendendo este modelo de Kirkpatrick, encaro o treinamento como um recurso gerencial e, como tal, deve ser visto como uma ação exclusivamente voltada para desenvolver novos recursos. A responsabilidade da gestão e validação do novo recurso são da gerência. Claro, isto de uma maneira compartilhada, dentro do espírito cliente-fornecedor interno

Vejo, então, algumas fases para uma correta avaliação das ações de treinamento (Fig. 1).

Fase 1 – Avaliação da situação atual – ou avaliação diagnóstica

Objetivo: compreender o problema, suas evidências comportamentais e suas causas (falta de conhecimento, falta de habilidade, etc.). Esta fase deve ter uma mensuração de modo que os envolvidos saibam o ‘tamanho’ do problema e suas implicações. Apenas a percepção de que algo não está bem pode ser insuficiente.

Fase 2 – Desenho da intervenção

Tendo-se definido que a solução pode ser desenvolvida por um treinamento, desenha-se uma intervenção, dentro dos princípios andragógicos de ensino. Estes princípios requerem o envolvimento dos participantes no problema, a discussão de problemas reais, a produção de estratégias de aplicação por parte dos participantes, técnicas participativas de treinamento, reflexão profunda sobre as causas dos problemas e sobre as condições que o fazem perdurar, etc. O desenho do treinamento deve ser validado com a gerência e participantes se possível.

Um ponto importante nesta fase é a definição de objetivos do treinamento. Parte da frustração com relação a não se perceber resultados de treinamento é que o treinador acaba aceitando definições de objetivos (e conseqüentemente de responsabilidades do treinamento) por metas inalcansáveis. Por exemplo, aumentar as vendas em 20%. Este objetivo não é do treinamento. É um objetivo da gerência. A gerência quer aumento de 20% nas vendas. Pequena parte desta contribuição é desenvolver alguns conhecimentos e habilidades. Mas a gestão delas, em que contexto serão utilizadas, depende da visão e capacidade gerencial.

Fase 3 – Condução da intervenção

Esta fase deve ser caracterizada pelo que chamamos de avaliação de processo de aprendizagem. Dentro de um espírito investigativo de causas e solução de problemas, o instrutor (como queiram chamar), deve cuidar tanto da aprendizagem como do processo que gera a aprendizagem, usando os critérios andragógicos como referência.

Fase 4 – Avaliação de reação, aprendizagem e comportamento

Aqui entram os critérios de Kirkpatrick.

Fase 5 – Avaliação de resultados

A avaliação de resultados deveria ser um hábito gerencial, isto é, o maior interessado pelos resultados deveria ser o gerente e a equipe treinada. Para isto, as avaliações da nova situação devem ser realizadas para se comparar com a situação inicial. E um novo ciclo se inicia, podendo gerar novas demandas de treinamento ou outras ações. Estas avaliações podem e devem ter uma participação ativa do profissional de RH, junto ao seu cliente, procurando participar do entendimento do porque os resultados apareceram total ou parcialmente. E deve ser interesse do grupo compreender os limitadores e tentar controlá-los.

Este ciclo caracteriza uma espécie de ‘pesquisa-ação’ por parte do profissional. Não vejo como especificamente de consultoria, já que o profissional de RH é parte da cultura e está comprometido com ela.

Afinal, os resultados de treinamento são mensuráveis?

Talvez esta seja uma discussão sem um fim muito claro. Em última análise, podemos medir aquilo que acontece ‘dentro do ambiente direto de treinamento’ (sala de aula, por exemplo), ou dentro ‘da cabeça do treinando’, isto é, os conhecimentos adquiridos, as habilidades demonstradas, um entendimento mais amplo de algum conceito ou contexto. Mas estes produtos serão alocados em contextos muito mais abrangentes do que o dos treinamentos. As variáveis que operam neste contexto mais abrangente não estão sob o controle do treinamento.

Parte da dificuldade de se medir resultados, sem dúvida, vem de se aceitar objetivos acima do que um treinamento é capaz de produzir. Se trabalharmos com objetivos cujos resultados estejam sob controle do treinando, e cujos recursos que permitem a utilização dos novos conhecimentos estejam disponíveis, então podemos medir resultados. E quando digo recursos não penso somente em dinheiro, equipamentos, penso também no estilo de liderança, no espírito de equipe, nos valores que irão apreender os novos conhecimentos e tentar transformá-los em resultados.

Ainda assim, quem deve medir resultado de treinamento é a gerência, afinal é ela quem tem uma necessidade, uma performance para ser melhorada, os recursos, as metas de produção e de vendas. Portanto, o treinamento, visto como uma “ferramenta’ gerencial, deve ser tratado dentro da filosofia custo – benefício e como tal ser avaliado. Mas é de interesse tanto de RH como da gerência, que essa ferramenta seja utilizada com a máxima eficiência. Então, a avaliação é de interesse de ambos. E sempre haverá um ‘quê’ de percepção nesta avaliação, seja qual for a qualidade da relação entre cliente e fornecedor interno.

Referências Bibliográficas

1 Jaques, Elliott – Requisite Organization – Cason&Hall, 1998 (segunda edição)
2 Kirkpatrick, D – Evaluating training programs. Berrett-Koehler. 1996


Nota: Artigo publicado originalmente no antigo site do Instituto Pieron.

 

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Treinamento para competências, desenvolvimento para valores e transdisciplinaridade

Todas as organizações falam de competências e parecem ter seus modelos de gestão por competências. Curioso, parecem bancos competindo. A prática de um é rapidamente copiada. Em competências, ocorre algo muito parecido. Mudam alguns títulos das competências, mas a impressão que se tem é que todas as empresas, de segmentos diferentes, procuram as mesmas coisas. Senão, vejamos. Sua empresa procura pessoas com ‘alto foco em resultados’? Ou procura pessoas com ‘capacidade empreendedora’? Ou, curiosamente, com ‘visão geral, sistêmica’? Ou, ainda, quer perfil ‘desenvolvedor de pessoas’? Ou quer pré-requisitos como falar dois idiomas (guess what, english? español, si como no?), ter morado em outros países, ter disponibilidade geográfica, ‘ter competência cognitiva’. Enfim, diferentes expressões para focar coisas parecidas.

O mercado passou a – erroneamente – adotar o ‘CHA’ (conhecimento, habilidade, atitude) como explicação simplista para o conceito de competência. Não sei de onde isto foi tirado. Quando trabalhava no Senac – anos 70 – esta expressão já era utilizada.

Quem for mais às raízes, entenderá que competência envolve a articulação dinâmica de traços (personalidade), forças pessoais, motivadores, valores, conhecimentos, por meio de comportamentos que levam a um resultado. Os valores fazem parte do subjacente da ação humana. Há, no subjacente, aspectos inconscientes, não diretamente acessíveis à simples observação. Quem compreende assim competência saberá que a gestão por competências envolve a busca de resultados, mas não de qualquer maneira. Os resultados devem ser obtidos por meio da prática de determinados valores, inclusive.

Não há dúvida de que as pessoas se comportam como querem, fazem coisas como querem. Não há um controle automático sobre a ação por parte do ambiente. Há componentes e determinações inconscientes que não são simplesmente modificados pelos treinamentos. Precisamos entender o que é desenvolvimento. Desenvolvimento significa deixar ‘um determinado nível de envolvimento com um modo de ser, e passar a se envolver com um outro padrão de modo de ser’; isto é, ‘des-envolver’, desamarrar-se de um estado de coisas e envolver-se em outro estado. Se preferir, em outros modelos mentais, os quais envolvem padrões de valores. Não digo de novos valores. Não creio que existam ‘novos valores circulando pelos ares de modo que possamos caçá-los e trazê-los para nós’. Valores são produções do desenvolvimento humano, graus de significados mais e mais amplos. Diferentes valores podem ser observados no comportamento de animais, pessoas, grupos, filósofos, líderes.

A liderança centrada em valores sempre é praticada de alguma maneira, porque sempre somos guiados por eles, pelos valores. Daí que a questão passa a ser outra: que padrão de valores queremos? Comoqueremos que os resultados sejam obtidos?

Treinar para competências pode ser quase uma impossibilidade, se considerarmos que treinar envolve transmitir e exercitar rapidamente alguma habilidade. Desenvolver para competências pode ser uma possibilidade, mas que demanda tempo. Tanto mais tempo quanto mais profundos forem o sistema de valores buscado e a mudança desejada.
Transdisciplinaridade

A transdisciplinaridade agrega de muitas maneiras. Não aprendemos sobre valores por meio das teorias de marketing ou econômicas. Não aprendemos sobre gestão apenas lendo Drucker ou qualquer outro autor. Para discutir e mudar valores, precisamos de múltiplas teorias que compreendam pessoas em sua profundidade e comportamento social; agreguem questões antropológicas; considerem questões da determinação biológica; compreendam pensamento sistêmico e padrões de comportamento político, religioso, do uso do poder. É na totalidade que estão os valores.

A transdisciplinaridade envolve também o modo de se encarar a gestão. Se tomarmos como base o paradigma das ciências humanas, os modelos de educação, até então restritos aos âmbitos escolares, são agora demandas das organizações, ‘universidades corporativas’. Padrões de saúde psicológica antes restritos aos consultórios são demandas organizacionais. Falamos de coaching, counseling. A escola demanda padrões de gestão – professores precisam pensar em negócios! Os clínicos também querem se ver como ‘negócios’. Qual o custo da saúde? O conhecimento busca a totalidade. As universidades viram o conhecimento ser ‘dividido’, segmentado em disciplinas. Hoje, rediscute-se a ‘nova aliança’ entre os conhecimentos – ciências humanas e naturais. Há uma busca de integração que considera a totalidade.

Esta totalidade traz em si valores, valores que consideram o todo acima de si. Este todo pode ser o planeta. Colocar este todo acima dos desejos pessoais implica em assumir que certos valores devam predominar nas decisões. Nada simples de conciliar.

Na prática das organizações, o todo também poderia ser uma equipe – nada simples de praticar. Como reconhecer o mérito individual? Como dizer que a ‘equipe é detentora do mérito?’ Nossos valores foram, de certa maneira, muito desenvolvidos na individualidade. E haveria de ser diferente? Contratamos e demitimos individualmente. Não contratamos e nem demitimos um grupo. O contrato de trabalho é assinado individualmente. Ao decidir, pensa-se em si, no custo que se terá se a decisão for errada. É um ato solitário. Mas também se quer um ato solidário! Você quer mostrar que é capaz e pode crescer na carreira; você, não os outros! Equilibrar valores não é simples, envolve transcender, colocar certos princípios à frente. Daí que a prática de valores nas organizações requer lideranças.

Liderança tem a ver com visão de longo prazo. E enxergar assim envolve a disciplina de princípios mais elevados, para que possam guiar a construção de valores para a organização e da relação da organização com o sistema mais amplo a que pertence. Também envolve a liderança do país, considerá-lo no sistema mais amplo a que pertence, e como se quer inseri-lo!

Esta tarefa, de desenvolver valores, é hercúlea, senão demais demorada para uma organização, quase impossível. Requer tempo. Requer equilibrar os desejos do acionista, os desejos de cada um de nós como pessoa comum, as condições de trabalho, e o espírito coletivo de empreendimento. Este, difícil. Afinal, trabalhamos para seres abstratos, como acionistas, sócios, detentores de ações, pessoas que nunca vimos e talvez nunca conheceremos. Mas há que se agregar valor. Para o negócio. Para o resultado. Mas quais valores?

Não se trata, portanto, de um desafio para o treinamento das empresas. O desenvolvimento há que ser uma matéria transdisciplinar na gestão – compartilhada e missionária, para que seja perene

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